“In Rainbows” vale quanto pesa

In Rainbows”, o sétimo disco de estúdio da banda inglesa Radiohead, foi lançado em outubro do ano passado de uma forma pouco convencional. O lançamento foi exclusivamente virtual, sem intermediação de gravadora e muito menos de agência profissional de propaganda. O disco foi disponibilizado para download no site da banda, e cabia ao fã decidir o quanto queria pagar por isso – podendo escolher não pagar nada.

Tudo bem, lançamentos via internet já deixaram de ser novidade. Em 2000, o Smashing Pumpkins lançou dessa forma o álbum “The Friends and Enemies of Modern Music”, e o próprio Radiohead fez isso com “Kid A” no mesmo ano. No ano seguinte, foi a vez da banda americana Wilco com o álbum “Yankee Hotel Foxtrot”. Esses álbuns foram lançados por gravadoras posteriormente. Há de se admitir que contrato e propaganda são sinônimos de segurança para o artista. Lançar um trabalho independente e aceitar qualquer centavo em troca pode ser jogada de marketing, mas é uma jogada no mínimo corajosa.

Após quatro anos sem lançar discos de inéditas (o último havia sido “Hail to the thief”, em 2003), os britânicos continuaram seguindo a linha eletrônica, iniciada com “Kid A”, mas fizeram um trabalho mais harmonioso e menos apocalíptico do que o álbum de 2000. “In Rainbows” investe um pouco menos nas distorções e mistura as batidas eletrônicas com melodias de jazz e arranjos elaborados, sobrepondo sons completamente diferentes. Parece que não dá certo, mas dá.

O disco abre com a música “15 Step”, de ritmo eletrônico bem marcado, rompido com uma melodia que lembra o álbum “4” da banda carioca Los Hermanos(!), semelhança que também aparece nas primeiras notas de “House of Cards”, uma das melhores faixas do CD. Com uma introdução limpa, “Jigsaw Falling Into Place” segue uma linha mais pop, como a “Weird Fishes/Arpeggi” e a poluída e distorcida “Bodysnatchers”.

Em contrapartida, “Faust Arp” soma orquestrações à suavidade do violão, e depois dá lugar ao clima tenso de “Reckoner”, em que a voz de Thom Yorke relembra o seu apelo depressivo característico. As baladas do disco ficam a cargo da simples e linda “Nude” e da hipnotizante “All I need”, uma música densa, marcada com um baixo distorcido e um piano esparso que ,às vezes, parece ter sido esquecido. “Videotape” é a faixa que fecha perfeitamente um dos melhores discos já lançados pela banda em seus 20 anos de carreira.

Jogada de marketing ou não, o download não está mais disponível no site oficial. Então, o Radiohead lançou, em parceria com selos independentes, um box com o CD, um vinil, um encarte especial e um disco bônus, “In Raibows 2”, com oito faixas igualmente recomendáveis. Neste disco, as batidas eletrônicas dão lugar à melancolia experimental da banda, destacada no piano e no violão de “Last flowers to the hospital”, na perturbadora “Up to the ladder” e na dramática “4 minute warning”.

Nem o box nem o CD têm previsão de lançamento no Brasil. Quem quiser desembolsar alguns dólares pode adquirir os produtos por preços variados através de sites internacionais de vendas como o Amazon.com – que possui inclusive a opção de venda de download. E aí, vai pagar quanto?

Luísa Dalcin – luh.dalcin@gmail.com
Jornalismo - 5° semestre
27/5/2008

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