“O principal desafio é o entendimento social” Professora Márcia Lise destaca ações da UFSM na Educação para Surdos
Foto: Géssica Valentini
Uma das programações do Fórum Mundial de Educação é a Atividade Autogestionada – Políticas Públicas no Contexto da Educação de Surdos, promovida pelo Departamento de Educação Especial da UFSM e a Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Coser. Será uma reunião de instituições ligadas à educação de surdos e entidades representativas, que ocorre no dia 30 de maio e pretende discutir as atuais políticas no contexto da educação de surdos. A chefe do departamento de Educação Especial da UFSM e coordenadora do pólo da UFSM de Letras Libras, Márcia Lise Lunardi, conversou com o InfoCampus e falou sobre o tema do evento e as políticas da UFSM na área.
InfoCampus: Você trabalha pesquisas na área de Educação para Surdos. Qual foi a motivação para estudar o tema?
Márcia Lise Lunardi: Eu venho já desde a formação da graduação, mestrado e doutorado trabalhando na questão da Educação para Surdos. Eu tenho também o grupo de pesquisa, que vem discutindo as políticas públicas para esta área. A motivação é uma questão profissional. Esta é uma questão interessante porque quando a gente diz que trabalha com surdos ou com alguma outra deficiência as pessoas sempre acham que tem algum vínculo ou um parente, mas no meu caso foi escolha profissional. Opção mesmo.
I: Um dos temas do Fórum Mundial de Educação são as políticas públicas para surdos. Neste sentido, o que se discute hoje?
M: Estamos vivendo um caldeirão cultural em termos de políticas públicas. A educação de surdos hoje está muito na vitrine, em função da inclusão de pessoas com necessidades especiais. Assim, os surdos estão aparecendo bastante. Nós que trabalhamos com surdos temos um movimento que vem tencionando muito com a comunidade surda. Eles mesmos vêm defendendo e dizendo como querem sua educação. No departamento temos dois professores que são surdos. Um dos pontos mais discutidos é inserir a língua de surdos como prioritária na educação desses sujeitos.
I: De que forma as pesquisas na UFSM contribuem nas políticas da educação para surdos?
M: Nós temos um curso inédito que vem formando alunos surdos em letras, na língua brasileira de sinais. Curso conseguido por decreto, pelos pesquisadores e pelos próprios surdos. Vivemos num momento muito fértil de políticas públicas e o curso coroa este momento.
A UFSM tem uma trajetória interessante. Até este ano éramos a única universidade a formar professores especialmente para trabalhar com surdos. Inclusive, eu sou uma egressa do curso. Só aí já temos uma grande contribuição. Além disso, sempre estamos muito preocupados. Se voltarmos na história, na educação para surdos, houve uma época em que eles eram obrigados a falar, pois a língua deles era proibida. A universidade passou por isso porque precisava fazer isso. Hoje, pensamos neles como sujeitos de uma outra língua, em que a língua de sinais faz parte do conteúdo dos professores. Inclusive, temos dois professores surdos no departamento que nos ajudam a pensar a questão. A UFSM, seja através da Reitoria ou do Departamento, está bem amparada.
I: Quais são os principais desafios para os surdos, na escola e na sociedade?
M: O principal desafio deles é o entendimento social. É preciso entender que a gente não está tratando de pessoas com deficiência, mas pessoas com falta de audição. A idéia do “deficiente” ainda vem muito colada. A gente deve pensar neles como sujeitos que falam uma outra língua. Assim, a gente entende que essa outra língua é necessária a sua vida. Esse debate no fórum vai nessa direção.
I: Quais são os principais desafios para os educadores? Os professores estão preparados?
M: É uma resposta difícil. Não temos um pacotinho pronto que os prepare para a inclusão. O cotidiano é que vai mostrar o que é necessário. Temos que dar algumas estratégias, pistas, mas a formação sempre vai estar em construção. Há muito sendo investido e os surdos estão recebendo esse incentivo. Agora, temos que trazer para a discussão como essa inclusão ocorre nas escolas.
M: Para Finalizar, faça um convite para o debate sobre o tema no Fórum Mundial de Educação.
O evento vai ocorrer dia 30, sexta-feita, aqui na UFSM, no Audimax, que fica no Centro de Educação, a partir das 13h30min. Vão estar presentes pessoas de todos os órgãos, municipais, da universidade, estaduais e até nacionais, representantes dos surdos, e com certeza esse é um momento mais do que adequado para tratar sobre o tema.
Géssica Valentini - gessicavalentini@yahoo.com.br
7º semestre/jornalismo
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