Cândido Otto da Luz lança novo livro Cândido Otto da Luz, em sessão de autógrafos na Feira do Livro
Foto: Luísa Dalcin
No dia 16 de maio, aniversário do Internacional de Santa Maria, o jornalista Cândido Otto da Luz esteve na Feira do Livro lançando o “Almanaque dos 80 anos”, que conta a história do Clube. Cândido investe na literatura esportiva há mais de 10 anos. Três livros foram publicados somente na série “Registros do Futebol Santa-mariense”. O autor também lançou outro livro sobre o Interzinho, intitulado “E.C. Internacional, um time inesquecível – Campeão do Interior/1981”, em 2006. Atualmente, é produtor e apresentador de programas esportivos e jornalísticos na Rádio Universidade (800AM) e na TV Campus(canal 15 da NET).
Infocampus: O senhor nasceu em Porto Alegre, se considera gabrielense, mas lançou cinco livros sobre o futebol de Santa Maria. Quando surgiu essa paixão pelo futebol daqui?
Cândido Otto da Luz: A paixão pelo futebol de Santa Maria vem de família. A minha família é toda vinculada ao Riograndense, meu avô materno foi fundador, presidente, goleiro do time. Desde guri, quando eu ia passar as férias em São Gabriel na casa dos meus tios, eles me levavam aos jogos do Riograndense. Mais tarde, como sempre gostei de futebol, passei a freqüentar o estádio do Inter e ver os jogos. Me formei em jornalismo pela UFSM em 1979, e em 1980 comecei a trabalhar na Rádio Imembuí, no esporte, como auxiliar de plantão, assumindo depois o plantão definitivo.
Depois trabalhei na Rádio Santamariense, no esporte e no jornal, e no esporte do jornal A Razão e da Rádio Medianeira. Eu fiquei muito tempo indo diariamente na biblioteca onde hoje é o Theatro Treze de Maio, pesquisando sobre a história do futebol de Santa Maria, em jornais antigos, desde o Diário do Interior de 1912, quando foi a fundação do Riograndense, curiosidades, anotações, fichas técnicas de jogos.
A partir de 1980, eu já tinha a minha própria ficha com todo esse material, mais o que fui juntando ao longo dos anos com pessoas ligadas ao Inter, que emprestavam fotos e documentos. Hoje, no meu arquivo pessoal, tenho mais de 500 fotos do Riograndense e do Internacional. E a partir de determinado momento, as pessoas me questionaram, “tu tens todo esse material, por que não lançar livros? Não existe nenhum livro sobre o futebol de Santa Maria”. Foi aí que eu comecei a pensar nesse assunto.
I: Mas o seu primeiro livro não foi sobre a história do Internacional. O que fez com que o senhor adiasse tanto esse lançamento?
C: É curioso, porque o meu primeiro livro seria esse, sobre a história do Inter, que eu estou contando no último (livro). Essa idéia começou em 1992 ou 1993. E um dos capítulos do livro seria sobre Valdemar Rodrigues Martins, o Oreco, que começou no Inter e foi campeão mundial pela Seleção Brasileira em 1958 na Suécia. E era tão farto o material que eu consegui do Oreco, porque entrei em contato com a irmã dele que morava em Alegrete, e com a viúva dele que morava em Minas Gerais. Para a minha surpresa, a irmã dele me procurou um dia na minha residência, com uma pasta cheia de material, e a esposa dele mandou por sedex cerca de 50 fotos e uma fita cassete com a última entrevista que ele deu antes de morrer, para uma rádio de São Paulo. Então eu resolvi deixar o livro do Inter para mais tarde e fazer um livro específico sobre o Oreco. E foi realmente o meu primeiro livro, “Registros do Futebol Santamariense, volume 1: Oreco”, lançado em 1996.
I: A inexistência da ata de fundação do Clube, que gera informações conflitantes quanto à primeira presidência, ou quanto à data de fundação, por exemplo, dificultou muito o levantamento de dados?
C: Acabou não dificultando nada. Simplesmente, o Internacional é lamentavelmente um clube sem memória. Parece que agora está sendo lançado um site na internet, mas qualquer clube do interior, de primeira ou segunda divisão, tem um site com informações. O Inter daqui nunca teve um site na internet, isso é uma vergonha. Então não tem memória, qualquer pessoa que liga para o Inter de Santa Maria pedindo informações, eles mandam ligar pra mim.
Dizem que a ata de fundação estaria com um dos ex-jogadores, o Morin, mas ele é uma pessoa muito reclusa. Através de um amigo dele, que sabia que ele tinha fotos originais do Inter da década de 30 que nunca tinham sido divulgadas, ele abriu uma exceção pra mim. Me emprestou as fotos, que eram importantíssimas, e foram publicadas no meu 2° livro, e agora nesse último novamente. Mais dezenas de fotos e documentos que consegui exclusivamente para esse livro com outras fontes.
Tive ajuda do Nelson Gündel, ex-jogador e ex-dirigente do Internacional. Ele também é uma pessoa muito fechada, mas através de um contato aqui, outro ali, ele me recebeu e me cedeu o material que tinha, e boa parte dele era inédita e contribuiu bastante para que o livro ficasse bem mais completo.
I: O livro possui fotos e registros que datam a partir de 1928. Ele não é só um livro sobre futebol, com as fichas técnicas de jogos e campeonatos do Internacional, ele é também um livro sobre a história da cidade. Isso era uma preocupação quando surgiu a idéia do livro?
C: Não. Essa parte histórica entrou completamente sem querer. Eu pesquisei no Diário do Interior e na A Razão, mas A Razão é só a partir de 1934. E na Casa de Cultura estavam faltando 2 anos de Diário do Interior. Aí eu descobri, através do próprio pessoal da Casa, que a Casa de Memória Edmundo Cardoso tinha esses exemplares que faltavam. Então eu fui pesquisar lá e a Dona Terezinha, viúva do Edmundo Cardoso, por iniciativa dela, graças a Deus, vinha conversar comigo e dizia “olha, tenho uma foto antiga do Inter aqui”, aí eu fazia cópia.
Depois “olha, tem uma cópia aqui de uma foto aérea de 1937, onde aparece o cemitério e um mato ao lado, onde hoje é o estádio do Internacional”; ou “olha, eu tenho uma foto do Café Guarany da década de 30”, quando eu disse pra ela que o Inter surgiu nesse Café, e assim foi indo. Então isso foi uma coisa que veio do acaso, da sorte. Eu comecei a colocar no livro e deu uma ilustração maior, até para o pessoal se situar no contexto histórico.
I: O senhor menciona no livro que “o bom seria ter começado a escrevê-lo dois anos antes”. Se o senhor tivesse tido mais tempo para escrever, o que gostaria de acrescentar aos leitores, que acabou ficando de fora?
C: Eu gostaria de ter feito mais entrevistas. Ter ouvido mais histórias, conversado mais com pessoas que foram importantes para o Inter. O patrono atual, Mário Cassol, por exemplo. Pessoa importantíssima, milita no Inter desde 1960. Mas ele é empresário, vive viajando. Tentei marcar cinco vezes com ele, e em todas ele desmarcou depois. Eu queria que ele contasse várias curiosidades sobre o clube. Também a Sirlei Dalla Lana, que foi a primeira mulher presidente de clube profissional do Brasil.
Eu coloquei no livro reproduções de matérias que foram feitas com ela na Veja e na Placar. Pedi que ela escrevesse algumas linhas sobre a experiência de ter sido presidente do Inter, já que eu não tive tempo de entrevista-la. O próprio Tarica, o maior goleador do clube; a entrevista que eu fiz com ele foi por correspondência. Ele estava em Itapema – SC, e eu mandei um questionário. Eu gostaria de ter aprofundado mais coisas com ele, e também com outros jogadores.
I: Ano que vem temos mais série A do Campeonato Gaúcho aqui em Santa Maria, e temos também a série C do Campeonato Brasileiro. O senhor acha que o Inter tem condições e que o estádio tem estrutura física para isso?
C: Eu acho que o Inter tem condições, sim. Ele já disputou a série B do Campeonato Brasileiro, em 1981, que era na época chamada de “Taça de Prata”. Agora a Federação Gaúcha, através da CBF, fez uma série de exigências para que o time participe da série C, como ter no mínimo 3 mil sócios efetivos, e vender um pacote de ingressos para a primeira fase. O Presidente Vargas também precisa de algumas reformas e o Inter já está trabalhando nisso.
A iluminação é ainda muito precária. O gramado, que era horrível, um dos piores do Rio Grande do Sul, melhorou muito. O Inter já lançou a campanha de sócios. Manteve o técnico, o que é muito bom, e manteve a maioria dos jogadores, e também está buscando contratar jogadores de nível. O problema é que as despesas na série C, por enquanto, ficam a cargo de cada clube, como as viagens, por exemplo. Esse ano, o Inter já recebeu 80 mil reais da prefeitura de Santa Maria. Então tem que ter apoio da torcida e da cidade, isso é muito importante agora.
Luísa Dalcin - luh.dalcin@gmail.com
5° semestre/jornalismo
20/5/2008
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