Continuação: curiosidades sobre a Alemanha e sobre o trabalho no BrasilInfoCampus – Professor, como são as aulas na Alemanha?
Hans: A parte mais importante das aulas na Alemanha envolve muita discussão, muita conversa entre alunos e professores. As aulas são em forma de seminários que diferem da chamada preleção, na qual só o professor fala. Esse tipo de aula exige que o aluno se articule para produzir e proferir seus próprios trabalhos. De certa forma, já é assim na escola, mas a universidade exige mais trabalho independente do aluno.
I – Existe em seu país alguma prova parecida com o vestibular ou o aluno entra sem concurso na universidade?
H: Bom, quando o aluno termina lá o que seria o segundo grau aqui, significa que ele tem a capacidade de estudar em uma universidade. Por isso, ele pode entrar no ensino superior, sem que precise prestar um vestibular. No entanto, alguns cursos têm certas restrições. No de medicina, por exemplo, o número de alunos é mais delimitado. O aluno pode entrar nesse curso de duas formas: ou pela média alcançada nas provas finais do segundo grau, ou por um tipo de prova específica do curso.
I – Os seus alunos santa-marienses demonstram algum conhecimento sobre a cultura da Alemanha, já que muitos se dizem descendentes de alemães?
H: Sim. Alguns falam um pouco de alemão sem terem feito curso, aprenderam com suas famílias. Esses têm um forte interesse sobre a Alemanha. Eu converso bastante sobre isso com alunos. Alguns deles fazem mestrado e vão passar ao menos um semestre lá. Acho que há um contato forte entre Brasil e Alemanha no plano acadêmico. Aliás, não só no plano acadêmico, mas também em outros planos, como o cultural, mas o que eu acompanho é o plano acadêmico. Mesmo sendo a distância geográfica muito grande, a existência de uma afinidade intelectual entre os dois países facilitou o meu trabalho.
I – Você pode apontar algumas características sobre como o Brasil é visto na Europa e como o senhor, vindo para cá, confirmou (ou desfez) esses pré-conceitos?
H: Sobre isso eu poderia falar muito. Como você já disse, na relação entre países há muitos pré-conceitos, muitas imagens simplificadas, clichês. Obviamente, na Alemanha em relação ao Brasil há muito disso. Um exemplo é a imagem de que o Brasil é um país, digamos, muito relaxado [no sentido de não haver disciplina e rigorismo]. Acha-se lá que aqui as coisas são muito mais improvisadas do que planejadas. Em certo sentido, isso é muito errado, porque a meu ver o Brasil é um país burocrático. Eu diria, inclusive, que há muita burocracia, muita padronização e sistematização de áreas que não são assim na Alemanha. Um exemplo disso é o currículo lattes que todos professores aqui na universidade têm. Os currículos têm um padrão formulado eletronicamente. Não há esse tipo de rigidez na Alemanha, cada um faz seu currículo do jeito que quiser.
No Brasil, há ainda contrastes culturais enormes. Certa vez o Vitor Ramil deu uma palestra na Suíça sobre o sul, sobre a ‘estética do frio’. Ele começou dizendo que vinha de uma parte do Brasil que quase não se conhece no exterior. Normalmente a imagem do Brasil em outros países é associada à cultura tropical, samba, e assim por diante. Foi ao vir para cá que eu notei que há muita diversidade aqui.
I – E os seus alunos apresentam também pré-conceitos em relação à Alemanha?
H: Tem-se aqui a imagem de que o alemão é super disciplinado, super formal, frio. Acho que isso é errado. Não sei exatamente de onde essa idéia surgiu. Talvez tenha algo a ver com a Prússia, que foi um estado famoso na história da Alemanha, que em certo período impôs um regime militarista e disciplinar. Mas não é a Alemanha que eu conheço. Quando eu estava lá e entrei no ensino superior, por exemplo, a universidade era bem caótica. Não tinha currículo para os alunos, cada um tinha que construir sua formação com muita liberdade. Isso contraria a idéia de rigidez que se tem aqui da Alemanha.
I – Já que estamos falando de estereótipos, a mídia nacional afirma que a mulher brasileira é uma das mais belas do mundo. Diz-se também que Santa Maria é uma das cidades do sul onde há grande concentração de moças bonitas. A sua impressão confirma ou não confirma esse mito?
H: Acho que eu tenho que confirmar, isso é óbvio. Há muitas mulheres belas por aqui. Ah... Bom, acho que não é preciso dizer mais nada [risos].
Jorge Robespierre Tomás Japur – jorgejapur@yahoo.com.br
5º semestre/jornalismo
1/7/2008
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