Curso de Ciências Econômicas - UFSM

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FORMATURAS

Discurso de Formatura do Paraninfo

Discurso de formatura da 13ª turma de Ciências Econômicas Diurna e 59ª turma de Ciências Econômicas Noturna – 06 de setembro de 2008 – 19:00h, Teatro Treze de Maio

Excelentíssimo senhor, Professor Jorge Luiz da Cunha, Pró-reitor de Graduação, representante do magnífico reitor e Pró-reitor de Graduação, professor Jorge Cunha; digníssimo Coordenador do Curso de Ciências Econômicas, professor Ricardo Rondinel; digníssimo representante do Conselho Regional de Economia, economista Alexandre Reis; digníssimo representante da Cacism; digníssimo patrono das duas turmas de formandos, professor José Lannes de Melo; demais professores homenageados; senhores e senhoras presentes; queridos afiliados:
Este é um dia muito especial para todos nós, professores, que vemos o resultado de nosso trabalho de anos reconhecido com a condição de homenageados pelas duas turmas de formandos de nosso curso. Mas é um dia ainda mais especial para os nossos alunos que no dia hoje estão colando grau no curso de Ciências Econômicas de nossa prestigiada universidade, e obtendo assim, aos olhos de seus amigos e familiares, o coroamento por tantos anos de esforço, dedicação ao estudo e a pesquisa nas mais diversas áreas que compõe a economia. Eu que conheço os formandos um a um pude acompanhar a evolução que tiveram desde os primeiros dias de universidade até a data de hoje em que estão prontos para assumir a tarefa de por em prática os ensinamentos recebidos, após terem tido uma sólida formação teórica, histórica e quantitativa. Talvez prontos não seja a palavra mais adequada, pois o economista está sempre aprendendo e quanto mais estuda mais descobre que muito tem ainda a aprender, mas tenho a certeza de que vocês tem em seu currículo tudo aquilo que era possível ser transmitido em 5 anos de curso.
Felizmente vocês tiveram a oportunidade de freqüentar um curso de Ciências Econômicas que lhes possibilitou conhecer os mais diversos pensadores econômicos, bem como suas diferentes escolas de pensamento. Conheceram os clássicos, neoclássicos, marxistas, keynesianos, pós-keynesianos, neo-ricardianos, novos clássicos entre tantas outras escolas de pensamento. Optamos por privilegiar o pluralismo de idéias, para que a formação de nossos alunos seja ampla, global e não restrita ao pensamento único que prolifera em boa parte dos cursos de economia do Brasil e do mundo. Até porque entendemos ser o conflito de idéias o motor propulsor para a compreensão da realidade e de novas descobertas, tanto no campo da economia como nas demais áreas das ciências sociais e humanas.
Lembro que esta luta pelo pensamento econômico pluralista foi uma bandeira que eu próprio levantava desde o tempo em que ingressei neste mesmo curso que vocês hoje concluem. A criação do Diretório Acadêmico da Economia (DAECO) no longínquo ano de 1983, mesmo ano em que ingressei no curso tinha, entre outros propósitos, a idéia de termos um ensino de economia pluralista. Tenho o prazer de ainda hoje conviver com o professor Paulo Feistel um dos que comigo e não mais do que uma meia dúzia de estudantes fundaram o DAECO. Eram tempos difíceis, o próprio DAECO não era reconhecido pela UFSM, e só bem mais tarde descobri, para minha surpresa, que o Serviço de Informações do governo militar da época, tinha me dado uma letra e um número: eu era o “B1963211”. Eu não tinha mais de 20 anos e sem saber era espionado por sabe-se lá quem. Nos relatórios do serviço de informação, à disposição no Arquivo Histórico Nacional, era considerado, o que aliás, muito me envaidece, um “militante expressivo”. Uma meia verdade, militante eu era, mas nem tão expressivo assim.
Era um tempo de trevas mas também de esperança, que felizmente passou, e que possibilitou, inclusive que os alunos de nosso curso hoje possam estudar o pensamento de Marx, sem que isto vire caso de polícia. O que nos deixa apreensivos nos dias de hoje é que tendo conquistado uma democracia, mesmo que limitada, vem à tona por parte dos governos estadual e federal tentativas de criminalizar os movimentos sociais, além de criar empecilhos para a livre organização sindical, que tem a sua melhor expressão na suspensão do registro do sindicato nacional que representa os professores desta universidade, o Andes.
Muito se lutou nestes anos todos e muito se lutará para a manutenção do caráter público, gratuito e de qualidade da universidade brasileira. O importante é que apesar de todas as dificuldades que vocês enfrentaram e não foram poucas, a começar pela aguardada aprovação no disputado vestibular da UFSM, podem ainda assim sentirem-se privilegiados por terem cursado uma universidade gratuita e de qualidade. Tiveram acesso a um curso presencial em que conviviam com colegas pelos corredores, professores em salas de aula, e tinham, inclusive a possibilidade de discutir os conteúdos e tirar suas dúvidas com os professores olho no olho. Coisas que os tais cursos à distância, que eu chamo de “cursos por telefone”, nem sempre oportunizam, ao mesmo tempo em que proliferam no país, engrossando as estatísticas de que mais brasileiros tem acesso a cursos superiores. O que deve ser questionado é a qualidade destes cursos, e se eles realmente cumprem os objetivos de uma universidade, que vai além de meramente despejar conteúdo aos alunos, mas discutir este conteúdo e até mesmo contestá-lo.
Dentro desta lógica em que a educação e o ensino é uma mercadoria, vivemos em um país em que surgem instituições privadas de ensino superior a todo instante, em cada esquina. De acordo com os dados do MEC/INEP, em 2004 o número de instituições privadas existentes no país chegou a 2.040, enquanto que em 1980 era de apenas 39. Esta expansão desordenada ocorre em grande medida através da renúncia fiscal por parte das mantenedoras, uma renúncia oferecida pelo governo federal como forma de dar acesso a que um maior número de pessoas freqüente os cursos superiores, só que esta renúncia fiscal faz com que recursos destinados ao ensino público sejam transferidos para as instituições privadas de ensino em detrimento das universidades públicas.
Se as universidades particulares enxergam a educação e o ensino como uma mercadoria, muitos vêem a universidade pública como a possibilidade de realizar um grande negócio, proporcionando através das fundações privadas “ditas de apoio” privatizar e corromper as entranhas de nossas universidades. Originam-se das fundações as experiências com a implantação de cursos pagos em nossa própria universidade, ferindo assim, a Constituição Brasileira em seu artigo 206, que garante “a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficias”. Creio nem ser preciso falar dos desvios de recursos que encheram os bolsos de uns e envergonharam a todos nós, que sempre nos orgulhamos de fazer parte desta instituição.
Não podemos deixar de falar na expansão das universidades públicas sem critério, através do Reuni, que incentiva a criação de novos cursos, sem garantias de que irão ser disponibilizados recursos, espaço físico, professores e corpo técnico-administrativo suficientes.
Poderia ficar falando dos problemas da universidade brasileira por muito tempo, mas penso que o momento é muito mais de festividade do que de denuncias.
Resta a mim pedir desculpas por não estar presente neste momento tão especial, e que me sinto extremamente honrado, aliás, esta é para nós, professores um dos maiores reconhecimentos que um professor pode receber, ser escolhido paraninfo das duas turmas de formandos do Curso de Ciências Econômicas da UFSM. A minha ausência em uma formatura em que sou homenageado é raro de ocorrer, e de ser paraninfo e de não estar presente é a primeira e espero que seja a última.
Não estou presente nesta cerimônia porque neste exato momento estou defendendo os mesmos princípios que defendi quando fui um dos fundadores do Diretório Acadêmico há 25 anos atrás, ou quando fui eleito dirigente da União Estadual dos Estudantes em 1984. Tendo no mês de junho deste ano assumido a presidência do sindicato dos professores desta instituição, a função de presidente me obriga que esteja na linha de frente na luta pela sobrevivência de nosso sindicato. O professor Ricardo Rondinel que me representa nesta solenidade, e que além de ter sido um dos fundadores da Sedufsm é ex-presidente do sindicato, sabe melhor do que ninguém da importância desta minha ausência no dia de hoje.
No exato instante em que este discurso é lido estou em São Paulo, na sede da CUT, junto com centenas de outros professores de várias universidades do país tentando impedir a destruição de nosso sindicato, pois um grupo de professores, aproveitando-se do fato de que o governo federal suspendeu o registro sindical de nosso sindicato nacional, o Andes, e apoiados por este mesmo governo federal, marcou para o dia de hoje, 06 de setembro, uma Assembléia de docentes para tentar formar um novo sindicato de professores. O caráter deste sindicato que esperamos que não surja, é o total descompromisso com a universidade, pública, de qualidade, laica e socialmente referenciada que o Andes, nosso sindicato nacional sempre defendeu. O que se busca construir aqui em São Paulo através deste grupo divisionista é um sindicato que não conteste o governo federal, o que se convencionou chamar de um sindicato “chapa branca”. Estou aqui, na verdade, também por vocês, que me conhecem o bastante, a tal ponto de terem me escolhido como paraninfo, assim, sabem que sempre lutei pelo que acreditava, e eu jamais me perdoaria se não estivesse nesta assembléia neste momento, já vocês, generosos como são, sei que me perdoarão por não ter comparecido a esta formatura.
Acho que a melhor forma de homenagear vocês, Aline, Fernanda, Juliana, Ketlen, Luana, Luciano, Marieli e Rodrigo é estar aqui, lutando pelos mesmos princípios que desde os tempos de estudante, sempre defendi e pela construção da universidade que sempre sonhei. Considere minha ausência a melhor forma de homenageá-los. Neste exato momento, acreditem, estou pensando em vocês.
Obrigado a todos e muito sucesso.

Sérgio Prieb
Paraninfo da 13ª turma diurna e 59ª turma noturna do Curso de Ciências Econômicas da UFSM



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