2.1.2 Futebol burocráticoAinda na seqüência da matéria anterior, que tratou dos “Bad-Boys”, o texto chamou a atenção para que se atentasse à composição do meio campo que iria se formar para a Copa Ouro:
“(...) Mauro Silva, Flávio Conceição, Denílson e Zinho. Com exceção do inventivo menino Denílson, os demais são ilustres representantes da mais eficiente burocracia do nosso futebol” . 8
O texto sugere possibilidades que podem ser interpretadas da seguinte maneira:
- A matéria dá enfoque a uma polaridade ao utilizar-se do destaque ou da contraposição futebol inventivo e futebol burocrático.
- Zagallo, coordenador técnico da seleção brasileira (94), baseado na afirmação acima, parece que herdou de Parreira esses ensinamentos. Considerando-se que Parreira foi detentor de uma era caracterizada, no jornalismo em geral, pela burocracia, pelo defensivismo e pelo futebol de resultados, e como indica o texto, remanescentes da campanha de 94 (Zinho e Mauro Silva), jogadores do time de Parreira faziam parte dos convocados de Zagallo. Parreira, na Copa de 94, foi duramente atacado pela imprensa, que não aceitava as suas concepções de jogo. Ele defendeu-se, na época, afirmando que não estava imitando o jogo europeu, como muitos jornalistas sugeriam e indicavam, mas que na sua opinião, para se praticar a boa escola brasileira de futebol era necessário primeiramente assegurar a posse de bola, portanto, defender em primeiro lugar, para depois atacar. Sua compreensão tática foi interpretada e ainda parece ser, como uma tendenciosidade ‘burocrática’, considerada ainda hoje, por muitos, como um ultraje à capacidade do jogador brasileiro em criar. O burocrático é considerado um ‘duro’, incapaz de sair de situações variadas, situações novas. Conseqüentemente, isso faz de Parreira e todas as pessoas que o cercam ou trabalham com ele, pessoas sem iniciativa, condicionando seus comportamentos à obediência e nada mais. Um burocrata padrão segue uma hierarquia rígida e se sujeita a regulamentos. Isso sugere, conseqüentemente, que burocracia, defensivismo e futebol de resultados representaram, no contexto da matéria, uma impossibilidade de compreensão do verdadeiro futebol brasileiro. O que assegurou, por sua vez, a sugestão indicada pelo texto de que se determinados jogadores estiverem presentes numa partida no lugar de outros, certamente um determinado comportamento os acompanhará.
8 Ver Folha de São Paulo, caderno 4, p. 2, em 01/02/98. Por Alberto Helena Jr., da equipe de articulistas. - Índice
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