LABORATÓRIO DE ANÁLISE DOS CENÁRIOS ESPORTIVOS NA MÍDIA

Responsável: Prof. Antonio Guilherme Schmitz Filho

2.1.3 Futebol Inventivo

Futebol inventivo é o termo vinculado e caracterizado em anteposição ao de burocráticos praticado pelo técnico da seleção brasileira – Zagallo. À inventividade no futebol brasileiro, ligam-se termos como: futebol arte, futebol lúdico, futebol descompromissado, alegre, infantil e de menino; indicando um entendimento já posto em relação ao jogo. Esse entendimento pode ser visto da seguinte forma, na Folha de São Paulo:

Em título indicando que: “Denílson é a imagem lúdica, o encontro mágico”

No texto, caracterizando que:

“(...) Aqueles dribles moleques, partindo da absoluta impossibilidade para criar as mais incríveis situações, lembram as surpresas tiradas do ar pelos prestidigitadores de circo da periferia(...)”

“(...) E, mesmo depois de ter marcado seu segundo gol num jogo em que deitou e rolou sobre o gramado, deu piques de 30 metros atrás da lateral, para recuperar a bola na sua defesa, numa demonstração clara que, apesar de seu prazer em brincar com a bola, os espaços e o tempo, é um profissional solidário, consciente dos deveres de seu ofício(...)”
9


Denílson é usado para caracterizar o futebol desejado e defendido por boa parte dos jornalistas esportivos, o qual, como modelo, se contrapõe ao criticado futebol burocrático. No “futebol inventivo”, vêem os jornalistas a representação da verdadeira tradição do futebol brasileiro. Essa tradição tem sido descrita e representada através de uma imagem de futebol, a qual vê em jogadores do passado, como exemplo de Garrincha, seus representantes 10. Freqüentemente são feitas na mídia menções a esses jogadores e suas proezas. A esse respeito, Nelson Rodrigues, escrevendo para a Revista Manchete Esportiva, em 19/07/1958, descreve a atuação de Garrincha, em jogo pelo campeonato Carioca de 1958 (Botafogo 2 x 1 Fluminense), salientando que:

(...) O futebol era, nessa terra, um esporte passional, sombrio, cruel. O torcedor já entrava em campo vociferando: - “Mata! Esfola!”. Ontem, porém, no Botafogo x Fluminense, sentiu-se uma curiosa reação: - Garrincha trazia para o futebol uma alegria inédita. Quando ele apanhava a bola e dava o seu baile, a multidão ria, simplesmente isto: - ria e com uma saúde, uma felicidade sem igual. O jornalista Mário Filho observou, e com razão, que, diante de Garrincha, ninguém era mais torcedor de A ou de B. O público passava a ver e a sentir apenas a jogada mágica. Era, digamos assim, um deleite puramente estético da torcida.(...)


(...)No segundo tempo, quase não lhe deram a bola. E aconteceu o inevitável: - o Botafogo caiu verticalmente. O Fluminense podia ter empatado, até. Mas ficamos num joguinho platônico, um futebol inofensivo, de passes para os lados e para trás. Resta saber: - de quem é a culpa? De uma indigência de recursos táticos? Ou faltou-nos um Garrincha, com suas penetrações fulminantes, as suas geniais invenções? No primeiro tempo, botafoguenses e tricolores punham as mãos na cabeça: - “Isso não existe!”.11

Acredito e suponho que nesses parágrafos acima citados, estão contidas as palavras, talvez os conceitos, enfim o conteúdo da mentalidade de futebol que reflete o espírito, a essência do futebol chamado de inventivo pela mídia; visto que o autor dos mesmos serve de referência para a maioria dos comentaristas, analistas e repórteres esportivos.

9 Ver Folha de São Paulo, cad. 4, p.2, em 23/03/98. Por Alberto Helena Jr., da equipe de articulistas.
10 Uma coisa caracterizada é a impressão que causa o futebol de Denílson. Para descrevê-lo, os jornalistas se utilizam de metáforas etc. Outra coisa é a exigência de se tentar implementar, operacionalizar e praticar esse tipo de futebol.
11 RODRIGUES, 1993, p.62-63.

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