Introdução1 INTRODUÇÃO
Não é possível negar, atualmente, o poder dos meios de comunicação, pois eles carregam a força onipotente e onipresente de transformar rapidamente conceitos e ideologias. Nesse contexto, milhões de pessoas podem ser expostas e influenciadas por determinadas condutas jornalísticas que, na maioria dos casos atrelam ao seu repertório normas de consumo e estratégias internas orientadas pela relação direta com os picos de audiência, ocasionando a construção de enunciados jornalísticos que se agregam e baseiam-se na condição de tempo e espaço próprios de cada meio.
Nesse sentido, o que é perceptível na realidade jornalística é o aumento na velocidade em disputar espaço de audiência e conquistar excelentes patrocinadores. Às vezes, uma determinada cobertura jornalística entra na disputa do vale tudo para agradar; e os acontecimentos passam a ser ordenados com a intenção de vencer o concorrente na fixação da atenção do público. Matérias e notícias passam a compor um núcleo informativo, que é o mesmo para todos, e nada é produzido ou criado fora desse contexto. A estandartização de determinado acontecimento se dá por dias a fio e enquanto durar a disputa de audiência entre os meios. O público, nesse caso, acaba sendo empurrado e envolvido pela disputa, pois já está sensibilizado pela estética de organização dada pela potencialidade processual dos meios; que se alicerçam fundamentalmente no poder de penetração e de instantaneidade. Portanto, a construção jornalística, como já foi dito, é regida pela ideologia capitalista, que por sua vez obedece à lei da produção e do consumo. Bastante óbvio e claro. Não! A impossibilidade de se perceber o que realmente está em andamento, dada pela velocidade de produção, torna impossível para o voraz consumidor (pela não existência de espaços) estabelecer uma organização própria para os sentidos produzidos.
No espetáculo, no show, na novela e no noticioso; um vínculo especial é estabelecido com o público. O espetáculo esportivo de futebol, principalmente, assume especial importância para o brasileiro de um modo geral. Nossa cultura está impregnada pelo jogo, que em épocas de Copa do Mundo extrapola em proporções, fazendo com que o lazer brasileiro passe a ser embalado pelo fascínio futebolístico; tudo e todos convergem para a alucinada e intempestiva vontade de gritar: Gooooooolllllll do Brasil.
“Pasteurizado” o lazer para todas as camadas sociais, via cobertura, em épocas de Copa do Mundo; entender o envolvimento dos meios de comunicação com o lazer (acompanhar a campanha brasileira no evento) passa a ser de fundamental importância. Visto que, principalmente para aquele acompanhante assíduo de transmissões de futebol, é possível observar ou perceber um fato que se repete na cobertura da Copa do Mundo, e provavelmente com maior evidência depois que o evento passou a ser transmitido pela televisão; trata-se das fortes críticas feitas pelos jornalistas esportivos aos treinadores e a alguns jogadores da seleção brasileira. Vários treinadores foram atacados e caracterizados como incompetentes para a função. As construções críticas decorrentes desse procedimento tornaram-se cada vez mais acentuadas, originando a formulação de uma “bula” jornalística que, aparentemente, foi sacramentada com a conquista do tricampeonato mundial, em 70, no México. Momento que definitivamente balizou o futebol brasileiro – “Era de Ouro”; sustentando uma “estética artística” já criada pela tradição do nosso futebol. Nota-se, claramente, que algumas dessas críticas se integraram ao vocabulário jornalístico com tamanha “rapidez e eficiência”, passando a constituir massa discursiva de uso regular.
Houve em todos os casos, acredita-se, bons motivos ou fundamentações que justificaram os selos jornalísticos empregados. A repercussão das críticas, junto à opinião pública, demonstrou e demonstra claramente o poder e a capacidade de penetração dos meios de comunicação. Todos esses selos, mesmo sem uma verificação mais apurada dos fatos, fazem parte de uma tradição e cultura popular do brasileiro. Obviamente que contribuíram para isso as inúmeras repetições das manchetes sobre o tema, nos diversos meios de comunicação. Ou pode algum brasileiro, mesmo o mais distanciado dos acontecimentos futebolísticos, dar-se ao direito de dizer que nunca ouviu ou leu algum comentário a respeito?
Jogadores, quando a serviço da seleção, também serviram e servem de alvo às críticas jornalísticas. Nesse caso, os pontos críticos variam e se diversificam na dependência de quem é alvo da crítica. Na população dos jogadores destaca-se, também, o que é comum aos treinadores e é realçado como alvo predominante ou como núcleo da notícia: julgamentos sobre sua competência - sua capacidade técnica e tática. Erros e defeitos são via de regra potencializados pelas notícias, servindo de base à atribuição de traços e perfis psicológicos, aos quais são ligados julgamentos e imputados valores quanto à capacidade de desempenho. Tais valores, pode-se dizer, nunca estão totalmente desvinculados de uma lógica já expressa e aceita com bastante facilidade no meio futebolístico.
Assim, o consenso se dá pela manifestação através da linguagem e pela popularização dada na utilização de jargões que formam senso comum em matérias e comentários jornalísticos. Como exemplo destaca-se: o zagueiro que impõe respeito, o artilheiro oportunista, o atacante individualista, o jogador mau peixe, o jogador amarelão, o jogador varzeano, o carregador de piano e o animal.
Historicamente, pode-se citar alguns jogadores que foram criticados ou sob a imagem dos quais divulgaram-se ou criaram-se questões polêmicas e sensacionalistas. Algumas são até hoje utilizadas como ponto de referência e lembrança de determinada época de nosso futebol; e até mesmo dispostas como elemento de relação para o que acontece na atualidade. Assim como Pelé, também Didi, Nilton Santos, Garrincha, Jairzinho e outros são lembrados por seus feitos. Dunga e a era de 90; Branco e a incerteza em 94; Toninho Cerezo e o erro do passe e mais toda turma de 82 que nunca ganhou uma Copa; Zico e o pênalti perdido em 86; Ronaldinho e a dúvida na final de 98; são fatos bem conhecidos do leitor e do espectador, e não raras vezes retornam para reforçar outras críticas do gênero.
Como essas questões envolvem, entre outros aspectos, juízos e julgamentos de natureza esportiva e de caráter técnico e tático, o qual não é a princípio um fato exclusivamente de abrangência jornalística; desperta curiosidade a questão relacionada com os pressupostos teóricos da técnica e da tática assumidos nesses julgamentos. O principal enfoque abordado no texto se concentrou na descrição e apresentação das principais críticas jornalísticas feitas a jogadores e técnico da seleção brasileira durante a Copa do Mundo de 1998 e na análise dos seus fundamentos.
Para tanto, realizou-se um relato do tipo de crítica ou comentário crítico existentes relacionados a treinadores e jogadores da seleção brasileira, durante o período de realização da Copa do Mundo de 1998 (França), destacando principalmente questões de envolvimento técnico - tático ou de competência técnica desses. Incluiu-se o período de preparação, partidas preparatórias e oficiais, onde críticas sobre a atuação da seleção nacional foram debatidas. Nesse aspecto se deu prioridade a situações que, já se sabia de antemão, geraram considerável polêmica na mídia e foram de grande evidência nos meios. Esses fatos ou episódios foram levantados e transcritos para se ter uma visão da perspectiva de análise e da fundamentação que deu suporte à crítica.
Adotou-se como ponto de referência para a realização das análises, o conteúdo da notícia, principalmente sob a perspectiva dos conhecimentos teóricos da técnica e da tática.
Para um melhor entendimento é necessário frisar que os termos jornalista esportivo, jornalismo esportivo e outros termos abrangentes aqui empregados devem ter o seu entendimento restrito aos fatos específicos apresentados no texto. É preciso salientar, ainda, que não é intenção desse trabalho estabelecer reivindicações no sentido de como deve ser o jornalismo esportivo. Procurou-se restringir o levantamento e foi proposta desse a análise dos limites das notícias e comentários feitos, sobretudo os limites das reivindicações implícitas e explícitas nas análises técnico – táticas do jornalismo esportivo. Parte-se do pressuposto de que, se são feitos julgamentos sobre a capacidade e competência técnico – tática de jogadores e treinadores, elas não podem contrariar o conteúdo técnico teórico existentes na área de estudo específica do tema.
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